QUEM REALMENTE É “VALTINHO DA 2”?
27/01/2015 22:37
Matéria de Matheus Nemesio
Nos últimos anos não há quem ande pelas ruas de Sorocaba e não tenha visto uma famosa pichação estampada nos muros. “Valtinho da 2”, o personagem, junto da frase, virou quase um conto popular na cidade e aguça a curiosidade de saber quem é essa pessoa que parece estar presente desde o Vitória Régia até o Campolim.
Foto: Arquivo pessoal Valter Luiz (Valtinho da 2)
As populares pichações nos muros de Sorocaba não tem sua origem aqui. Valter Luiz, mais conhecido como “Valtinho” começou pichando por brincadeira pedaços de madeiras no final dos anos 80 ainda na cidade de São Paulo, onde nasceu. A explicação de “Valtinho” fica clara, é nome de registro de Valter Luiz, mas e o codinome “Da 2”? Perguntei a ele, “Desde criança minha mãe me chama de Valtinho... ‘2’, era o nome da rua que eu morei em São Paulo, lá no Jardim Miriam, perto de Jabaquara... Então eu colocava “Da 2” e meu nome junto, então associavam que era eu. Aí ficou. “ explicou Valter.
Com a chegada em Sorocaba o hobbie de marcar seu nome pelos muros continuou e hoje é difícil encontrar alguém que nunca tenha visto o tal “Valtinho da 2” pichado em algum lugar. Por estar presente em tantos lugares e com uma linguagem fácil, sem letras distorcidas, todos conhecem a marca e se perguntam sobre quem seria o autor. Uma das histórias que contam é que Valtinho seria um frequentador de igreja, ia para cultos durante a noite e depois saia para pichar os muros, mas Valter desmente, “Não, essa história é mentira! Seria hipocrisia estar na igreja e depois sair pichando. Isso não tem nada a ver. As pessoas confundem, acham que sou de igreja só por que ando de roupa social!”
Com tantos nomes ao redor da cidade, principalmente em localidades do Centro, a dúvida é: todas as pichações foram feitas por Valter ou isso virou um slogan, uma frase tão popular, que mais pessoas picharam? Valter conta que todas as pichações de spray e em lugares abertos, foram ele, mas comenta sobre outros tipos de marcas deixadas por terceiros, “Dizem que já viram meu nome escrito de canetão, dentro de shopping, escolas e faculdades, essas não foram eu. Não picho em lugares particulares ou em prédios de atividade...”
No Brasil, pichação é considerada crime ambiental, quando perguntado se Valter tinha alguma pendencia com a policia da região, ele afirma que não. “Se fosse assim eu não tinha aparecido no vídeo e não estaria me expondo agora... A polícia aqui me conhece, eu evito pichar muro de casas...” Mas entre tantas aventuras para marcar seu nome, uma vez Valtinho da 2 quase foi pego. “Só aconteceu uma vez aqui na cidade, foi quando eu fiz um brasão da C.B.F em um tambor de 7 metros, daí quando comecei a colocar meu nome me entregaram, aí a policia já estava na minha captura... Mas a policia ainda não me conhecia e se influenciavam por comentários negativos e falsos sobre mim”.
No trabalho, sempre de social, ninguém sabe que ele é o autor das populares pichações da cidade, mas revelou que um colega descobriu e contou para algumas pessoas, que não acreditaram. Em 2013, em sua primeira apresentação na internet como Valtinho da 2, através de um vídeo publicado no Youtube, Valter mostrou para quem quisesse ver quem ele era e falou sobre a associação do seu nome com o mercado ilegal de drogas “Esse estereótipo de pichador não é real... Nunca precisei usar nenhum tipo de droga. Não bebo, não fumo... Sinceramente acho que a droga é uma... droga! Já até pichei isso como alerta para os jovens”. Valter ainda conta que seu nome era distorcido entre dependentes químicos, “Quem não me conhecia dizia que onde tem meu nome era um ponto de droga. Isso é totalmente falso.”
Após muitos anos de pichação, VALTINHO DA 2 se tornou popular também na internet, muito pela curiosidade do público. A página “Valtinho da 2” que faz referencia às pichações tem mais de 500 curtidas e o evento “Mutirão para encontrar o Valtinho da 2” chega á quase 8 mil confirmados. Além de montagens com seu nome do totem de Sorocaba e camisetas que dizem “Valtinho da 2 é +qd+”.
Foto: Reprodução internet
Hoje, aos 42 anos, Valter Luiz é um cidadão como qualquer um. Trabalha, tem uma família e vive normalmente. A diferença é que seu nome, por um hobbie de criança vindo dos anos 80 que ultrapassou décadas, está exposto em vários muros da cidade, o que nos fazem sempre ver, seja no caminho da escola ou trabalho. Não é usuário de drogas, não é morador de rua, não é vândalo. É simplesmente, VALTINHO DA 2.