PREFEITO DE SOROCABA, FALA SOBRE A ERA DO RADIO NA CIDADE

04/12/2014 00:47

Prefeito de Sorocaba Antônio Carlos Pannunzio, fala em entrevista exclusiva sobre suas lembranças da era do radio e a vida cultural em Sorocaba nos anos 50

O Prefeito da cidade de Sorocaba, nos recebeu em seu gabinete para contar suas histórias de infância, que coincidem com o período final da chamada “Era do radio no Brasil”.

foto: Natalia Germano

Portal Coruja (PC) : Boa tarde prefeito, como o senhor já sabe não vamos falar sobre politica atual, e sim sobre a era do radio.

Pannunzio: Perfeitamente, vamos lá

PC: O senhor nasceu em 1943, por tanto durante a era radio, correto? E senhor nasceu aqui em Sorocaba mesmo?

Pannunzio: Correto, mas não nasci em Sorocaba, nasci em São Paulo, mas vim pra Sorocaba por volta de 48, mas não faz diferença, porque de 43 eu não me lembraria mesmo, então vamos partir do final dos anos 40.

PC: Culturalmente falando, como era Sorocaba nos anos 50, e existiam rádios locais?

Pannunzio: Bom primeiro falando da parte cultural, o mais forte em Sorocaba eram os cinemas, que eram as grandes novidades, e tinham vários aqui na cidade. E tinha muito teatro também, mas naquela época os teatros já estavam virando cinemas, como teatro São José, que eu não cheguei a ver peças lá, mas fui muito nele como cinema, e lá eu me lembro que tinha grandes placas escritas, nesse teatro esteve o tenor Tito Schipa, e esse tenor Tito Schipa era uma coisa fenomenal pra época, gigantesco como cantor de ópera, então Sorocaba tinha sim uma atividade cultural, mais com os cinemas, e alguns teatros ainda, até porque pouco tempo antes nem cinema existia. E o primeiro desses teatros e que eu não cheguei a conhecer como teatro, mas conheci depois como prefeitura, foi o antigo teatro São Rafael, onde hoje funciona a Fundec.

 E as rádios tinham também seu espaço na vida cultural da cidade naquela época, as principais rádios de Sorocaba chamavam PRD7 e Radio Clube de Sorocaba, e essas rádios tinham também auditórios, então além dos programas normais de radio, esses programas com auditório eram uma forma de entretenimento pra gente que era criança e ia lá participar de programas de vários tipos, exatamente como é a TV hoje, outra coisa que era muito importante eram os noticiários, porque o radio naquela época era o meio mais importante e mais rápido de noticias, mas tinha alguns equívocos também, me lembro inclusive de um fato que aconteceu, acho que foi na década de 50, ou algo assim, lembro que eu estava em casa ai anunciou no radio a morte do papa, ai as rádios suspenderam a programação e ficaram umas duas horas tocando musica fúnebre, ai foram ver e o papa não tinha morrido nada, e voltou a programação normal (risos), então acontecia dessas coisas, porque a comunicação ainda era muito precária.

 Mas o radio tinha sim um papel muito importante na informação das pessoas, me lembro que no horário dos grandes jornais, como o repórter ESSO as famílias se reunião na frente do radio pra ouvir, as famílias se reuniam até mesmo pra ouvir musica, e o radio tinha sim um papel muito importante até porque era o jeito mais rápido de chegar as noticias.

PC: E naquela época o índice de analfabetismo era muito grande né, então o radio levava informação a muito mais gente que os jornais impressos não é?

Pannunzio: Isso sem duvida, pouca gente sabia ler e os jornais naquela época tinham tiragem muito baixa, não é igual hoje que tem tiragens gigantescas, se bem que os com maiores tiragens hoje estão na casa dos quatrocentos mil se não me engano, vem diminuindo muito...

PC: Os jornais estão perdendo muito espaço pra internet...

Pannunzio:... Na verdade acho que não é que vem perdendo pra internet, eu acho que eles estão andando juntos, hoje todo jornal tem seu site também com grandes acessos, então perde de um lado mais ganha do outro. Hoje você tem por exemplo o E-BOOK, que você lê livros pelo celular, tablet. Agora pulando um pouquinho dos anos 50 pro final do século passado mais ou menos, eu participei como deputado na época, de um congresso na Suécia pra discutir oque seria o negocio da internet que estava chegando, falava-se muito sobe o E-COMMERCE, que seria o comercio pela internet, tinham países já mais na vanguarda disso, e no Brasil estava-se começando a regulamentar essa coisa toda, estava sendo criada a Anatel por exemplo que regula tudo isso que eu também acompanhei como deputado.

E depois disso, com a digitalização do mundo, tudo vem evoluindo muito rápido, hoje um equipamento como esse aqui (mostra o próprio celular), faz muito mais coisa que os primeiros computadores faziam, o mais difícil neles é conseguir fazer ligação, porque o serviço esta péssimo (risos).

 

PC: prefeito o senhor falou sobre as famílias se reunirem para ouvir o radio, e o senhor se recorda quais os programas que você e sua família mais costumavam ouvir?

Pannunzio: então tinha um programa que me lembro bem, era de uma radio do Rio de Janeiro, se não me engano radio Nacional, chamado balança mais não cai, um humorístico, e a história se dava em volta de um determinado prédio do Rio, e varias situações acontecia, mais ou menos oque foi o sai de baixo na Tv, mas tudo apenas com o som. Tinha também as radio novelas, teve uma que marcou época e depois foi reproduzida na televisão, mas primeiro foi no radio, acho que o nome era, não estou recordando bem mas acho que era Direito de Nascer, e era uma coisa assim que ninguém saia de casa naquele momento, pra ouvir essa novela. Outra coisa que eu lembrei, aqui em Sorocaba havia um programa, naquela época já tinha TV e a acho que a TV Tupy lançou um programa chamado o Céu é o limite, que era um programa de perguntas, que o convidado escolhia um tema, e o programa fazia perguntas sobre esse tema pra ele, e conforme acertava as respostas ia aumentando o prémio, e a radio aqui de Sorocaba copiou isso, e agente que era garotada da escola ia pra ser auditório e pra tentar responder também, o nome do programa era Salomão faz justiça, e isso tudo empolgava agente que era criança na época.

PC: E essas são as lembranças mais marcantes do radio na sua infância?

Pannunzio: Sim, mas tem uma coisa que também me marcou muito que foi a noticia da morte do presidente Getúlio Vargas, em 54, eu lembro que eu estava na escola, e hoje agente sabe que ele morreu de manhã, por volta das oito da manhã, mas a noticia chegou pra gente só praticamente no final do período matutino de aula, ai foi aquela comoção, todo mundo sem entender direito, porque as noticias vinham muito picadas, meio soltas, e agente criança não entendia bem, mas me marcou.

PC:  Já que o senhor tocou no nome de Getúlio Vargas,  é inegável gostando ou não, que foi com a ajuda dele que o radio se desenvolveu na Brasil. Principalmente porque ele tinha interesse na influência que o radio poderia ter na vida politica do país, e  Getúlio queria utilizar isso a seu favor. O senhor concorda com isso?

Pannunzio: claro. Getúlio era um visionário pra época dele, e também buscava popularidade e o radio que vinha surgindo na época dele era um ótimo meio de levar as noticias e de fazer propaganda do seu governo, até porque naquele tempo eram pouquíssimas pessoas que liam os jornais. 

PC: No seu tempo de infância, o senhor se lembra se o radio tinha muita influencia na vida politica do Brasil?

Pannunzio: Com certeza tinha muito, era o principal meio de comunicação, então era por lá que agente ficava sabendo oque estava acontecendo na Brasil, através dos noticiários, e também tinha a voz do Brasil, que por sinal ainda existe e que se não me  engano foi o próprio Getúlio quem criou.

PC: E hoje, o senhor acha que o radio ainda tem algum poder de influenciar na vida politica do país?

Pannunzio: acredito que tem ainda sim, porque hoje em qualquer lugar que você está, você pode estar com um fone de ouvindo escutando radio, por exemplo uma pessoa que está lá na roça trabalhando, pode deixar um radinho ao lado, e trabalhar ouvindo o radio, na maioria das vezes as pessoas escutam programação de musica, mas ainda tem quem ouça os programas de noticias e informação, então acho que o radio ainda influência sim.

PC: Prefeito para finalizar, o senhor acha que o radio ainda tem um futuro longo, ou tende a acabar logo?

PannunzioOlha eu sou muito saudosista, e acredito que o radio terá vida longa, até porque ele vai se reinventando, hoje existem aplicativos de celular que você escuta rádios do mundo inteiro, de todos estilos musicais a qualquer hora, hoje se eu quiser ouvir agora uma radio de Jazz eu consigo sintonizar através desses aplicativos, então isso facilita o acesso ao que você gosta no radio, e faz com que o radio seja sempre ouvido.


 

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